terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Cuidar de ti, cuidar de nós.

Já caminhamos por 2013, ainda sem abandonar as resoluções de ano novo que se dissipam com o correr dos dias; algumas nas quais ainda cremos, outras tomadas já com a firme certeza de que não serão concretizadas.
Mas num ano que se avizinha difícil e com situações complexas à espreita, há mudanças internas que podem ajudar a lidar com as contrariedades e revolucionar a forma como vemos o mundo. Talvez este seja o momento oportuno para as pessoas entenderem as suas próprias vivências como parte de uma experiência humana maior e não como algo isolado do mundo e, ao mesmo tempo, terem uma atitude de aceitação com os próprios pensamentos e sentimentos dolorosos, sem se identificarem em demasia com os mesmos, reforçando a capacidade para serem amáveis consigo próprios, em vez de duros e auto-críticos.
Como meio para obter tais efeitos sugerimos a compaixão, processo complexo e multifacetado de cura que, segundo a perspectiva budista, permite cumprir o desejo de libertação do sofrimento.
Na teoria, a compaixão marca a vida das crianças desde muito cedo, pela mão de um sistema baseado na afectuosidade e num conjunto de sinais de cuidado e investimento (ex: toque, expressões faciais) proporcionado pelos pais, através da partilha de afecto positivo que estimula o gostar e os sentimentos de ligação, e as faz sentir pessoas merecedoras de amor. Parece-nos, sem dúvida, um bom modelo de cuidar e por isso seguimo-lo no Centro Social e Paroquial de Revelhe, mas a sua validade deveria garantir-lhe espaço em qualquer seio familiar.
Sabemos que a relação com o outro proporciona às crianças a aprendizagem de modelos de relacionamento que serão usados a nível interno, na relação consigo mesmas, e que os modelos familiares trazidos por aqueles que acolhemos não são os mais saudáveis, apresentando estas crianças e jovens níveis mais baixos de auto-compaixão, mais elevados de auto-criticismo e dificuldade em manter um estado emocional equilibrado.
No Centro, pretendemos que tenham contacto com o modelo da auto-compaixão para que o possam interiorizar. Desta forma, promovemos através da compaixão a compreensão empática e aceitadora das emoções das crianças e jovens, o que facilita a validação das mesmas, sempre apoiados nos dados que indicam que a compaixão tem efeitos benéficos ao nível do funcionamento psicológico adaptativo. No fundo, ambicionamos que a nossa compaixão promova naqueles com quem trabalhamos sentimentos auto-compassivos, por meio da observação e da experiência, e esta lhes permita ter uma consciência equilibrada das próprias emoções e os ajude a promover a transformação dos afectos negativos em estados emocionais mais positivos, e também a procurar identificar o que mantém os estados negativos para gerar um conjunto de acções que os modifique. De facto, não se pretende uma fuga dos sentimentos dolorosos, nem o evitamento dos mesmos, mas uma estratégia de regulação emocional que os perspective de uma forma consciente, com amabilidade, compreensão e um sentido de humanidade partilhada, pois não podemos esquecer que o sofrimento é intrínseco à condição humana e por isso vivenciado por todos os seres, em diferentes graus e por diferentes causas. Convém ainda não confundir a auto-compaixão com o conceito de auto-estima e com as características a si inerentes. Não trabalhamos a auto-estima  procuramos antes que as áreas mais fracas do jovem sejam reconhecidas, sem as julgar, de forma a realizar mudanças positivas e que os erros sejam identificados, para que se possa tentar corrigí-los, mantendo sempre a responsabilidade pessoal sem deixar de ser compreensível e amável com ele mesmo.
Todos nós, enquanto adultos, temos de ter sempre presente que somos modelos para as crianças e jovens com os quais convivemos e que quando demonstramos compaixão, eles observam-na e apreendem-na, e tornam-se pessoas mais generosas, gratas e indulgentes. Detemos por isso o dever, cuidadores que somos, de cultivar a compaixão em nós e ao sermos compassivos, cultivá-la também nos outros, para que a aceitação sem julgamento ou comparações seja atitude constante e a gentileza marque a nossa a relação interna e aquela que mantemos com os que nos rodeiam, sem nunca esquecer que o primeiro passo para mudarmos o mundo é querermos que haja metamorfose em nós  

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